Por: Juliano Vilas Boas
Comunicador Popular
Centro de Agroecologia no Semiárido (CASA)
16/10/2018
Famílias agricultoras familiares tem provado que a partir do acesso às políticas públicas de convivência, é possível viver com dignidade e qualidade de vida na região semiárida. Entre estas políticas, destaca-se a estocagem de água, através da implementação de tecnologias sociais tanto para consumo humano, através da cisterna de 16 mil litros, quanto para a produção de alimentos agroecológicos, através das cisternas calçadão e enxurrada (52 mil litros), dos barreiros trincheira familiar e comunitário, dos tanques de pedra, limpezas de aguadas, bombas BAP, barragens subterrâneas, entre outras, que tem como objetivos promover a soberania e segurança alimentar e nutricional das famílias, além da gerar trabalho e ampliar a renda, com a comercialização do excedente da produção em feiras, em mercados locais e também institucionais, a exemplo do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
Na microrregião de Guanambi, o Centro de Agroecologia no Semiárido (CASA), organização membro da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), Rede formada por organizações da sociedade civil que atua com políticas de convivência com o Semiárido, já atendeu quase 20 mil famílias com a água de consumo e mais de 2.500 com água para a produção de alimentos. Neste contexto muitas experiências das famílias beneficiárias foram sistematizadas, através de programas de rádio, videodocumentários, revistas, boletins, banners, textos, cordéis e matérias no site institucional e facebook, onde as próprias famílias afirmam que a partir do acesso à agua de consumo e produção e também de outras políticas públicas, suas vidas tiveram melhoria significativa. Anteriormente, muitas destas famílias migravam sazonalmente para fazendas dentro do estado da Bahia e também para outros estados, para o trabalho em atividades como corte de cana, colheita de laranja, entre outras, nas quais nem sempre as relações de trabalho eram respeitadas.
No atual momento, cerca de 810 famílias estão sendo atendidas com as tecnologias de produção (cisterna calçadão, enxurrada e barreiro trincheira) e água de consumo, através de três Projetos/Programas distintos:
Entre as famílias que estão sendo atendidas por esta última parceria, está a de Selma Abrantes Santana, residente na comunidade de Caraibinha, localizada à aproximadamente 25 km da sede da sede de Guanambi, que aguarda ansiosamente a construção da cisterna calçadão.
No último dia (09/10), durante uma breve conversa com Selma, por ocasião de uma visita técnica para organização do diagnóstico familiar, Selma responde com muita tranquilidade, Como viver dignamente no Semiárido Brasileiro?
Sobre sua história…
“Se eu for contar a história… A gente tinha que ir buscar água longe, de charrete ou mesmo de baldinho na cabeça. Desde pequena que eu carrego água na cabeça. Carreguei muita água na cabeça com meu filho do lado. Tudo isso eu já passei. Mudou um pouco, com a cisterna de 16 mil litros, mesmo assim eu ainda carrego água para molhar uma planta. Muita dificuldade. Até hoje, a gente tem que carregar água na cabeça, de um barreirinho que tem ali no fundo, para molhar uma planta, pra dar água as galinhas. É um barreiro pequeno, então quando chega final de maio ou de junho, ele seca e a gente fica sem água. Então depois que a cisterna estiver construída, tudo vai mudar”.
Sobre a tecnologia social cisterna calçadão…
“A importância da cisterna é que vai mudar muita coisa. A gente vai plantar hortas, dar água aos animais, poder criar um pouco mais e fazer um investimento melhor, pois até agora a gente não tem, inclusive com a plantação de frutas e hortaliças. A partir do momento que construir a cisterna e tiver cheia de água, a gente vai poder produzir, de tudo, um pouquinho. Eu quero produzir hortaliças, abóbora, melancia, por que de tudo dá para plantar um pouquinho. E eu quero produzir sem veneno, da forma que aprendi e explicou pra gente lá no curso. E dá pra gente produzir sem veneno, por que a maioria dos alimentos que a gente consome tem muita contaminação, até o tomate, a batata… A gente percebe que tá contaminado, que tem muito veneno e não tem nem o sabor do próprio alimento. Então se a gente produzir sem o veneno o alimento vai ter uma boa qualidade para a pessoa se alimentar, para doar e para poder vender, pois vai ter uma procura grande. Com a cisterna vai mudar totalmente, para a gente trabalhar, molhar as plantas e não vai precisar pegar água na cabeça e livra do peso. Pra comunidade muda totalmente. As pessoas não vai ficar preocupada de onde achar água para molhar uma planta, pra poder plantar algumas ervas medicinais. Essa caixa de 52 mil litros, é agua para o ano inteiro e ninguém vai poder ficar reclamando. Eu estou agora muito feliz e ansiosa para ver ela pronta. Que todo mundo fique feliz com a caixa e na expectativa de algo melhor, mais e mais”.
Sobre as formações…
“Os curso foram importantes por que coisas que a gente como agricultor não sabia fazer, principalmente os defensivos naturais. Então foi muito importante. Todo mundo aprendeu um pouco, fazer o seu próprio defensivo. No momento que estiver produzindo, cada agricultor vai ter a facilidade de desenvolver seu próprio defensivo, por que, ao invés de comprar, tudo é natural. A produção vai ser melhor e cada pessoa que tiver produzindo vai poder desenvolver no mercado, pois a procurada pelos alimentos naturais é grande e principalmente para o seu próprio consumo”.
São histórias como a de Selma, que inspiram e motivam o CASA a continuar lutando por políticas públicas de convivência com a região semiárida, por acreditar que a partir do acesso a elas, as famílias conseguem ter melhoria na sua qualidade de vida, se tornando menos dependente da indústria do veneno e da seca, ao passo em que ajudam a construir uma outra ótica de ver e conviver com o mundo.
Assim, a cada dia seguimos lutando por nenhum direito a menos!
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