O CASA apresenta a Poesia “ Uma Cisterna no Sertão” do poeta e cordelista Ivan Santos, do município de Jacaraci-BA, que representa o Poder Público do município, através da Secretaria de Assistência Social e colabora na implementação de 100 Cisternas de Consumo de 16 mil litros, através do Termo de Colaboração 061/2022, celebrado entre o Estado da Bahia, através da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional – CAR e o Centro de Agroecologia no Semiárido – CASA, de acordo o Edital de Chamamento Público CAR/PAT nº 002/2022, Lote 01.
“Uma Cisterna no Sertão” – Ivan Sousa, Jacaraci-BA
Doutor eu sou lá do mato
Morador de uma grota
Onde tem uma linda serra
De onde uma água brota
Minha casa é de sapê
Se quiser pode ir lá vê
Onde minhas galinhas bota.
Certo dia lá em casa
Bateu palma no eitão
Sair para ver quem era
Deparei com um cidadão
Perguntou a minha Graça
Respondi, sou João Fumaça,
Conhecido na região.
Tirou foto de minha casa
Com uma máquina moderna
Sentou no meu banco velho
Descansou e cruzou a perna
Esticou o dedo com junta
Me fez uma curta pergunta
O senhor já tem cisterna?
Pensei! minha Santa Maria
Nossa Senhora do Desterro
Meu sonho é ter uma dessa.
Deixa eu assinar esse termo
Aqui nessa terra sofrida
Ela é assim conhecida
Como a caixa do GOVERNO.
Fez mil e uma pergunta
Se minha mulher era branca
Se na casa tinha banheiro
Se a telha era cerâmica.
Passou trena em todo lado
Deu 200 metros quadrados
Porque a bicha é boa de anca.
Perguntou se eu tinha ZAP
Respondi, claro patrão
Esse bicho é importante
Igual carne no feijão
Esse bicho nos ensina
Qual o preço da gasolina
E o resultado da eleição.
Depois me chamou num curso
Longe de onde morava
Passei a perna na jumenta
Logo cedo lá estava
Pensa num curso bacana
Se fosse pra durar uma semana
Por mim eu lá ficava.
Abri um buraco no chão
Parecendo uma sepultura
Gastei quase um enxadão
Queimei um pouco de gordura
Mas era um empreendimento
Importante para meu sustento
Que fiz com desenvoltura.
Ela foi criando forma
E eu olhando encantado
Enfeitou a minha casa
Foi um sonho realizado
Branquinha igual uma neve
Esperando que em breve
Caia chuva no telhado.
Bem no final de outubro
A cigarra abriu o bico
Eu pensei e logo logo
Mas será o Benedito?
Começou a invernada
E eu com água armazenada
Eu vendo nem acredito.
Ficou só pra os animais
Aquela água amarelada
Hoje eu tenho mais saúde
Tomando uma água tratada
Acabou a dor de barriga
Causada pela lumbriga
Que tanto me castigava.
Meu sítio valorizou
Valendo quase um trilhão
Mas é claro que não vendo
Ele é minha diversão
Hoje aqui na minha terra
A bendita da cisterna
É a rainha do *Sertão*.
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